Colina. parte 1

Status
Não esta aberto para novas mensagens.

DeletedUser

Convidado
Era uma tarde fria e calma, com as folhas outonais, amarelas, caindo sobre o telhado da casa de campo do Sr. Johann. Uma fina névoa dava a impressão de ser mais frio do que o de costume, nos campos Catarinenses.
Ao longe, no horizonte, o velho negro Sr. Johann não via nada da sua plantação de trigo, mas sim um mar gigantesco de névoa e mais névoa.

- Mas que coisa mais estranha! - ele pensou alto e se assustou com a própria voz. Na casa inteira, nos campos, na plantação, nada se ouvia, o silêncio era cortante como o gume de uma faca afiada.

O silêncio o incomodava cada vez mais, e ele se perguntava onde estavam todos os pássaros que deveriam estar fazendo barulho, onde estava barulho do vento, onde estavam todos os barulhos que juntos se transformavam numa sinfonia quase surreal. Não havia nada, absolutamente nada.

O Sr. Johann saiu pela porta a fim de clarear sua cabeça. O que ele estava pensando? Se enlouquecendo por causa de um silêncio de tarde? Isso era besteira, loucura.
Loucura. Loucura. LOUCURA!
Algo parecia estar falando com ele, mas por dentro da sua cabeça. Parecia um pensamento confuso, que andava livre pela sua cabeça e em alguns pontos mordia. Algo estava ali, agora já não dava pra negar.

Uma folha amarela caiu silenciosamente (silenciosamente) perto da sua bota suja de barro, ele a pegou e olhou fundo em sua textura. Era amarela com algo vermelho contrastando, como se fosse.... alguma mancha....(sangue)...ele não conseguia divisar o que era.
O silêncio. Não é belo o silêncio?- O pensamento mordeu.

Na folha, algo apareceu. Como se ela estivesse sendo queimada com uma caneta especial. Linhas finas de fumaça subiam para o ar, para se perderem no silêncio e na névoa. Pouco a pouco, palavras foram se formando, primeiro uma, depois mais, até que a própria estrutura da folha estava tomada de escritos. Johann leu o que conseguiu.

O silêncio torna alto os ruídos da noite.
A névoa torna escuro o dia e claros os pensamentos.
A loucura torna a vida fácil e a morte suave.
Silêncio. Névoa. Loucura.
Divisa aquela colina, negro?
 

DeletedUser

Convidado
colina. parte 2

-Colina, mas que colina? E por que diabos eu estou falando com uma folha?
Dizendo isso atirou longe a folha. O pensamento intruso se agitou, e com ele a árvore amarelada. Folhas caíam por toda a parte enquanto o intruso gritava na sua cabeça palavras insanas.
LOUCURA! LOUCURA, NEGRO! SUBA A COLINA! ENCONTRE A VIDA, A MORTE! ME ENCONTRE! SUBA A COLINA, NEGRO! SUBA, SUBA! EU FAÇO PARAR A DOR, A LOUCURA! SUBA, NEGRO!

-MAS NÃO TÊM PORCARIA DE COLINA NENHUMA AQUI! - Foi um berro alto, todas as folhas da árvore caíram de vez, e todas apontavam com os gumes na direção de uma clareira na névoa densa. Uma folha caiu bem na mão do negro velho, e algo estava escrito nela.
DEUS O CHAMA. SUBA.

Então, o contorno claro de uma colina apareceu de repente onde antigamente tinha sido sua plantação. Aquela colina estar ali era um desafio as próprias estruturas da física, mas ele não ligava, nunca tinha sido bom com números. Algo o estava chamando, algo o estava comandando a subir a colina. (MAS ISSO É LOUCURA! LOUCURA!)

Ao pé da colina, o velho viu uma árvore marcada com riscos simétricos, como unhas desesperadas. Enquanto subia a colina, a realidade se distorcia ao seu redor. O mundo se contorcia, gemia, e agora ele já podia ver tochas na sua frente, gritando palavras desconhecidas a ele. Uma ele conseguiu entender. Heretici! Heretici!
E ela se propagava pela colina, e abalava os próprios alicerces da terra. Mas logo isso ia parar, o topo estava próximo agora, e ele já estava a uma distância curtíssima das tochas, que eram carregadas por homens vestindo hábitos marrons e batinas negras. No meio, iam dois acorrentados, um homem e uma mulher. A mulher sangrava nas duas mãos. (Nas unhas)

No topo da colina, um círculo foi formado, e os dois foram colocados numa mesa de pedra. Então, o silêncio. Um padre alto, com um punhal de prata, começou a rezar algo. Então, esse era o único
 

DeletedUser

Convidado
colina. parte 3 final

Notre Père qui êtes aux cieux,
que votre nom soit sanctifié,
que votre règne arrive,
que votre volonté soit faite sur la terre comme au ciel.
Donnez-nos aujourd'hui notre pain quotidien,
pardonnez-nous nos offenses
comme nous pardonnons à ceux qui nous ont offensés;
ne nous laissez pas succomber à la tentation, mais délivrez-nous du mal. Ainsi soit-il.

O punhal dançou no ar e desceu para a barriga do homem. Um som, um gemido, como se ele estivesse engasgando, escapou de sua garganta. Ele estava morto. Sua cabeça pendeu e ele fitou Johann com seus olhos mortos.

O padre agora chegou ao lado da mulher e rezou novamente. Agora uma oração totalmente diferente.

Je vous salue, Marie, pleine de grâces,
le Seigneur est avec vous,
vous êtes bénie entre toutes les femmes
et Jésus, le fruit de vos entrailles, est béni.
Saint Marie, Mère de Dieu, priez pour nous, pauvres pécheurs,
maintenant et à l'heure de notre mort. Ainsi soit-il.

O punhal dançou de novo e penetrou a carne da mulher. Apenas uma lágrima solitária escapou de seu olho, um gemido agudo e baixo de sua garganta e nada mais. Estava morta.


Então a realidade se contorceu de novo, e não havia mais nada, a não ser névoa e silêncio. Johann sentado em sua cadeira, olhou pela porta de sua fazenda. Não havia colina nenhuma. Mas no meio da plantação, um homem e uma mulher, mãos dadas, barrigas com sangue fresco, acenaram um adeus e desapareceram.
O pensamento intruso se contorceu e se foi, deixando apenas um ultimo suspiro.
 

DeletedUser13918

Convidado
historia :legal:
 
Editado por um moderador:

DeletedUser13918

Convidado
gostei, no singular
 
Editado por um moderador:

DeletedUser13918

Convidado
conte uma q tenha o comunismo envolvido
 
Editado por um moderador:
Status
Não esta aberto para novas mensagens.
Topo